11.27.2006

Não bastasse os pés na "lama", todo o chão percorrido manchava-se, e as pessoas, sem chances, maculavam-se de tinta preta. Invisível aos olhos, caia um, dois, três, sempre era tempo de um escorregão. Meias e shorts sujos estendidos no varal por toda a cidade. Nem mesmo os carros eram salvos da peste, encardidos, faziam fila nos postos de gasolina. Água, álcool, diesel, querosene e o diabo a quatro não eram suficientes pra tirar a "lama" do corpo das pessoas, das ruas, dos carros, das cidades, da vida daqueles moradores. Alguns acostumaram-se ás vistas pretas, optavam por roupas escuras, discretas. Até mesmo no calor era obrigatório o uso de botas. Ordens superiores, sabe-se lá o que o Governo queria com isso, era dito que a tinta era a peste do séc que estava por vir e só quem evitasse o contato, resistiria a algo que nem os cientistas eram capazes de explicar. Em algumas comunidades próximas, as manchas começaram a ser utilizadas na passarela. Era moda os pés, mãos, braços e pernas machados. A nódua, resistente ás invensões humanas, fazia parte da vida das pessoas, dos animais. Mesmo habituados, ainda havia quem se oposse. Tomavam de liberdade de ir contra o governo, escreviam nos muros frases revolucionárias, produziam livros, camisetas, propunham o retorno do claro e óbvio. Mas mesmo assim, a lama cobria tudo, até mesmo as vistas de alguns. Quartos totalmente escuros começaram a ser projetados por alguns arquitetos. A idéia era treinar os humanos até que eles se acostumassem com a escuridão. O Governo se apropriou da escuridão para estabelecer sua vontade. Cego, o povo era insuficiente comparado a uma elite defensora da opressão empregada na padronização em virtude da mecanização alienante do pensamento humano. Cada vez mais o preto tomava conta do sol, alguns cegos procuravam oftamologistas, resistiam a trágica eternidade, mas eram levados a laboratórios de treinamento. A idéia era construir uma cidade totalmente projetada para cegos, sujos e infelizes. Algumas mulheres da alta sociedade, ensinavam métodos de tratamento, higienização, de forma que todos fossem reeducados a uma única maneira de agir. Era a esperança da sobrevivencia de alguns. Era a tortura ditadura de outros. Cegos, burros e revoltados. Iam contra o Governo e a sociedade. Iam contra suas próprias delimitações físicas. Arriscavam! Passavam a tarde mirabulando planos. Alguns cagavam nas ruas como protestos. Mas, os mais pensantes, propuseram uma única e definitiva solução: bombardeio à Larmey. Se havia peste que resistisse as químicas, pagavam pra ver. Dito e feito. Fora somente um suspiro e o finalizante BUM! Todos os larmeyanos acompanhados de seus vizinhos morreram em prol do fim da lama até então eterna. O sol se abria enquanto a fumaça subia. Era um novo tempo na nova Carley. Sem nenhum vivo pra contar das ruas lameadas e dos cegos que se aproveitavam da situação pra copular com a mulher do vizinho. A luz penetrava os olhos dos animais que surgiam, das crianças que cresciam, e dos adultos que faziam da antiga Larmey, Carley - a cidade dos vitoriosos oprimidos, que mesmo contra o sistema, foram capazes de realizar mudanças e salvar as pessoas da escuridão!

11.20.2006

Mais poético do que esse Inspirar-Expirar constante. Vidinha besta, meio colorida, meio segunda. Meio vontade de Saara. A dois. Cores pastéis e incansáveis aos olhos e ao coração. Deslisa em suspiros e soluços.

11.08.2006

É numa dessas quartas-feiras, que acordo com a certeza que a manhã é cruel e que não tenho forças pra abrir meus olhos e seguir adiante. Passo a manhã inteira deitada embaixo da coberta. Quartas-feiras eu queria retornar para o útero de minha mãe e novamente passar longos 9 meses, encolhida, quentinha, alimentada e segura. É sofrido esse mundo daqui, é sofrido lidar com pessoas, é tão sofrido ser uma...

11.06.2006

Que escapa entre meus dedos.

Escapando,
escapou.